Jornada Paulista de Oftalmologia (UNICAMP)

Dados do Trabalho


Título

TRAUMA ORBITARIO TRANSFIXANTE COM ACOMETIMENTO DO NERVO OPTICO CONTRALATERAL

Resumo

Homem, 67 anos, proveniente de Atibaia (SP), admitido no Hospital das Clínicas da Unicamp, vítima de acidente domiciliar com tronco de árvore em órbita direita. Consciente e orientado, ECG 15, com pedaço de tronco de árvore fincado em região medial de órbita direita. Ao exame, deformidade importante da órbita direita, sendo impossível avaliar e estimar acuidade visual deste olho. Olho esquerdo apresentando acuidade visual SPL, midríase fixa, PIO 14, motilidade ocular preservada. Disco óptico e retina sem alterações à fundoscopia. Em avaliação conjunta com equipe do Trauma, submetido a TC de crânio que revelou múltiplas fraturas orbitárias, objeto com entrada em parede medial da órbita direita e término no trajeto posterior do canal óptico contralateral, com edema significativo adjacente. Globos oculares íntegros. Descartadas lesões de grandes vasos pela equipe de Neurocirurgia e lesões ameaçadoras de vida pela equipe do Trauma. Após discussão com equipe da Otorrinolaringologia, optado por início imediato de pulsoterapia com metilprednisolona a fim de redução do edema, além de antibioticoterapia e encaminhamento para centro cirúrgico. Realizada abordagem conjunta de urgência pelas duas equipes, por via endoscópica nasal, para retirada do corpo estranho e desbridamento da lesão. Realizou posteriormente reconstrução eletiva da parede orbitária com a equipe da Cirurgia Bucomaxilofacial. No seguimento de 6 meses, apresentava acuidade visual de olho direito: 20/80 e de esquerdo: 20/160, enoftalmo e esotropia à direita, com diplopia binocular, em programação cirúrgica, segue em acompanhamento com a equipe do Estrabismo.
Traumas orbitários penetrantes sempre são desafiadores. Sua grande maioria é unilateral e revela sua gravidade no exame à lâmpada de fenda. Neste caso, o panorama geral foi estabelecido somente após exame de imagem, demonstrando uma causa rara de amaurose contralateral ao olho atingido, um edema de canal óptico por tranfisxação da parede medial orbitária. A conduta clínica e cirúrgica, tomada em conjunto com outras equipes do Corpo Clínico-Cirúrgico do hospital foi essencial para alcançarmos uma evolução favorável diante da gravidade do caso.
O presente caso reforça a importância da conduta inicial de preservação da vida ante à integridade visual e do globo ocular. Em um trauma ocular ou orbitário, descartadas lesões ameaçadoras de vida, busca-se o diagnóstico assertivo, provendo intervenções acertadas e rápidas afim de melhora do prognóstico visual. Destacando a opção pela pulsoterapia com corticoide e a abordagem cirúrgica multidisciplinar como fatores essenciais para preservação da visão em ambos os olhos do paciente, deve-se sempre lembrar que traumas oculares e/ou orbitários não raramente necessitam de colaboração de outras equipes além da Oftalmologia. Estar preparado para esse tipo de cenário faz a diferença no desfecho do paciente.

Área

Urgências e Traumas

Autores

BRUNNO CIDADE DE LIMA, PRISCILA MONARO BIANCHINI, ROSANE SILVESTRE DE CASTRO