Jornada Paulista de Oftalmologia (UNICAMP)

Dados do Trabalho


Título

MANIFESTAÇOES OCULARES E RESULTADOS VISUAIS EM PACIENTES COM INFECÇAO AGUDA POR TOXOPLASMA GONDII

Resumo

Introdução: A toxoplasmose é causada pelo parasita intracelular Toxoplasma gondii. A toxoplasmose ocular é a principal causa de uveíte posterior, e pode apresentar-se na forma típica, com lesões de retinocoroidite e unilaterais, ou na forma atípica, a qual cursa com quadros com lesões ativas bilaterais, que podem diminuir significativamente a acuidade visual. A primo-infecção pelo parasita parece estar relacionada com quadros atípicos e lesões maculares.
Objetivo: Descrever manifestações oculares e resultados visuais em pacientes com infecção aguda por Toxoplasma gondii.
Métodos: Indivíduos atendidos no serviço de uveíte do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, SP, entre março de 2015 e maio de 2023, os quais apresentaram evidência sorológica de infecção aguda por T. gondii (IgM positivo para T. gondii) e sinais clínicos de toxoplasmose ocular foram incluídos no estudo. Um especialista em uveíte fez o diagnóstico clínico da doença a partir da presença de coriorretinite ou uveíte ativa, e na ausência de outras doenças, em indivíduos com evidência sorológica de infecção aguda por Toxoplasma gondii. Os indivíduos foram examinados em lâmpada de fenda e por oftalmoscopia indireta, e tiveram a acuidade visual testada em todas as visitas.
Resultados: Foram incluídos no estudo 50 indivíduos (54% mulheres e 46% homens; n=61 olhos). Quarenta e três indivíduos (86%) tinham entre 18 e 64 anos de idade e 7 indivíduos (14%) tinham mais do que 65 anos de idade. A maioria dos olhos apresentou uma única lesão (n=42; 68,8%), 15 (24,6%) apresentaram de duas a quatro lesões e um indivíduo (1,6%) apresentou 5 lesões em um mesmo olho. A fundoscopia não pôde ser realizada em dois olhos devido à opacidade da meios e sinéquias posteriores; um olho não apresentava lesão retiniana, apenas uveíte anterior. Lesões maculares foram observadas em 18 olhos (29,5%), lesões periféricas em 21 olhos (34,4%), lesões centrais não-maculares em 12 olhos (19,6%) e lesões centrais e periféricas concomitantemente em 7 olhos (11,5%). Nove indivíduos (18%) apresentaram doença ocular atípica, uma vez que apresentaram lesões ativas bilaterais concomitantemente na abertura da doença, ou ausência de lesão retiniana ou lesões múltiplas em um único olho.
Quatro indivíduos apresentavam cicatriz em um olho e lesão ativa no olho contralateral, sendo assim dos 61 olhos avaliados, 57 apresentavam uveíte ativa na abertura do quadro e foram considerados na análise de acuidade visual, excluindo-se os 4 olhos que tinham apenas cicatrizes.
Do total de 57 olhos com uveíte ativa na apresentação da doença, 42,1% (n=24) tiveram AV inicial pior do que 20/400; 1,7% (n=1) teve AV inicial entre 20/200 e 20/400, 21,1% (n=12) tiveram AV inicial entre 20/63 e 20/200; 14% (n=8) tiveram AV inicial entre 20/40 e 20/63 e 21,1% (n=12) tiveram AV inicial melhor do que 20/40.
Destes 57 olhos, ao final do seguimento, 31,6% (n=18) tiveram AV final pior do que 20/400; 28,1% (n=16) tiveram AV final entre 20/63 e 20/200; 14% (n=8) tiveram AV final entre 20/40 e 20/63 e 26,3% (n=15) tiveram AV final melhor do que 20/40.
Conclusões: A toxoplasmose aguda resultou em redução da visão em um número significativo de indivíduos, apresentou com grande frequência manifestações atípicas da doença, e há provável predileção por acometimento macular.

Área

Uveítes

Autores

BARBARA REGINA VIEIRA BRAGA, RENATA MORETO, SIGRID ARRUDA, DENNY GARCIA, JUSTINE SMITH, JOÃO MARCELLO FURTADO