Jornada Paulista de Oftalmologia (UNICAMP)

Dados do Trabalho


Título

FATORES PREDITIVOS ASSOCIADOS A REABILITAÇAO PARA LEITURA EM PACIENTES COM BAIXA VISAO ATENDIDOS POR UM SERVIÇO ESPECIALIZADO EM BAIXA VISAO E CEGUEIRA

Resumo

Introdução: Um dos objetivos do atendimento ao paciente com baixa visão é a reabilitação para leitura, o que nem sempre é possível. Conhecer fatores preditivos pode ajudar a implementar algoritmos, tornando o processo mais eficaz. O objetivo deste estudo foi identificar fatores demográficos ou clínicos associados à reabilitação para leitura.

Método: Este foi um estudo observacional retrospectivo e analítico, dados foram coletados dos prontuários médicos de pacientes, com idade 50 anos ou mais, atendidos entre 2009 e 2019 no setor de Baixa Visão do Hospital das Clínicas da FMRP-USP. A variável dependente estudada foi a reabilitação para leitura, definida como a capacidade de ler textos com optotipos de tamanho ≤ 1,5M. Não foram considerados capazes de ler pacientes que distinguiram apenas optotipos isolados (letras ou números) de tamanho ≤ 1,5 M, ou que leram apenas palavras isoladas, ou se constasse no prontuário médico que liam “com muita dificuldade”, ou “muito lentamente”. Foram coletados dados de idade, sexo, escolaridade (categorias: analfabeto/semi-analfabeto; fundamental incompleto ou fundamental completo ou maior), acuidades visuais apresentada (AVa) e corrigida (AVc), em logMAR, do olho com melhor AVc no primeiro atendimento, refratometria (módulos do equivalente esférico e do cilindro), se houve prescrição da refração para longe, e se foram prescritos auxílios ópticos. Utilizaram-se regressões logísticas uni e multivariada para análise (Stata (Stata/IC 15.1, College Station, TX), considerando-se significativas se p < 0,05. Dados foram apresentados em valor-p, Odds Ratio (OR) e intervalo de confiança 95% (IC95%).

Resultados: Foram avaliados 558 pacientes, idade 67,7 ±11,0 anos, 288 mulheres, Ava 1,15 ± 0,36 e AVc 1,08 ± 0,37. Destes, 514 pacientes foram avaliados quanto à reabilitação para leitura. Destes, 257 (50%) conseguiram ler textos com optotipos ≤ 1,5M. Na análise univariada, os preditores para a reabilitação para leitura foram: Ava, AVc, idade, escolaridade, prescrição da refração para longe, prescrição do auxílio óptico e localização anatômica (retina) (todos com p 0,000). Na análise multivariada, apenas a região anatômica perdeu a significância: AVc (aumentos de 0,1 logMAR: p 0,000; OR 0,69; IC 95% 0,62-0,76); idade (p 0,007; OR 0,96; IC 95%: 0,94-0,99) e escolaridade (p 0,000; OR 5,81; IC 95% 3,47-9,75). As prescrições da refração para longe (p 0,016; OR 1,96; IC95%: 1,14-3,40) e de auxílio óptico (p 0,000; IC 95% 3,50: 2,05-5,99) também estão associados à reabilitação para leitura.

Discussão: Este estudo investigou preditores para a reabilitação para leitura. Quanto mais idoso, menor a chance de voltar a ler, reforçando a necessidade de encaminhamento precoce aos serviços de reabilitação. Quanto pior a AV, menor a chance de reabilitação. Recursos de ampliação eletrônica, presentes em celulares e tablets, podem ajudar na reabilitação, se associados aos auxílios ópticos já utilizados. O nível educacional como fator preditivo sugere que pessoas que leram mais anteriormente à perda visual estariam mais aptas ou mais dispostas a voltar a ler.

Conclusão: A chance de reabilitação para leitura é maior nos mais jovens, com melhor AV, e com maior nível educacional. Esses pacientes também receberam mais prescrições de óculos para longe e de auxílios ópticos. A identificação dos preditores pode direcionar ações de intervenção mais efetivas, como recursos educacionais adaptados e programas de reabilitação personalizados.

Área

Geral

Autores

DANIEL MARTINS CABAL, MANUELA MOLINA FERREIRA, ROSALIA ANTUNES FOSCHINI