Jornada Paulista de Oftalmologia (UNICAMP)

Dados do Trabalho


Título

TOXICIDADE CUTANEA INDUZIDA POR MELPHALAN APOS QUIMIOTERAPIA INTRA-ARTERIAL PARA MELANOMA DE COROIDE: UM RELATO DE CASO

Resumo

CASO: ECCC, feminino, 48 anos, relatava baixa acuidade visual de rápida evolução associado há moscas volantes e fotofobia em OE há 1 mês. Acuidade visual de 20/20 OD e 20/80 OE. Biomicroscopia e pressão intraocular eram normais em ambos os olhos, assim como o exame fundoscopia em OD. Ao exame de fundoscopia de OE, observou-se uma lesão pigmentada e elevada entre 11 e 12 horas com múltiplos pontos hemorrágicos e descolamento de retina seroso adjacente, acometendo periferia nasal, temporal e inferior. A região macular encontrava-se aplicada.
Na avaliação da ultrassonografia, a lesão apresentou descolamento da retina adjacente, vazio acústico e diâmetro basal de 14,67 mm e espessura de 10,67 mm levando ao diagnóstico de melanoma de coroide.
O rastreamento sistêmico para outros tumores primários e metástase foi negativo. Neste ponto, foi oferecida a paciente placa I-125 (disponível apenas principalmente em consultórios privados), radioterapia de feixe externo (EBRT) e enucleação. Paciente não possuía condições de realizar tratamento com placa de braquiterapia I-125 e também recusou o EBRT devido aos seus efeitos colaterais conhecidos. Desta forma, foi oferecido um uso alternativo de quimioterapia intra-arterial com Melphalan seguido de placa Ru-106 para evitar a enucleação. Após discussão de todos os potenciais riscos e benefícios desses procedimentos, a paciente optou por se submeter à quimioterapia intra-arterial (IAC) com 7,5 mg de Melphalan após cateterização seletiva da artéria oftálmica sob anestesia local.
Três dias após IAC com Melphalan, paciente evoluiu com lesão hipercrômica periocular com extensão para região frontal e supraorbitária à esquerda. Um mês após foi realizado nova ultrassonagrafia evidenciando redução da espessura tumoral. Em seguida, foi realizado braquiterapia com placa de Ru-106.
DISCUSSÃO: Baseado em pesquisas realizadas pelo PUBMED, o primeiro relato do uso de Melphalan intra-arterial para melanoma de coroide é datado em 2022. (Jorge et al., 2022). Sabe-se, porém, que existem efeitos adversos relacionados ao seu uso intra-arteria oftálmica. Dentre eles cabe destacar: paralisia de nervos cranianos, edema orbitário, descolamento de retina permanente, hemorragia vítrea e alterações do epitélio pigmentado da retina (Wisan et al., 2012). Seu uso intravítreo também pode causar complicações como: atrofia iriana, atrofia coriorretiniana, hemorragia vítrea e descolamento de retina (Smith et al., 2014). Em crianças, seu uso para o tratamento de retinoblastoma mostrou complicações como edema palpebral, ptose, hiperpigmentação cutânea e paresia de musculatura extraocular (Tuncer et al., 2016)
O Melphalan apresenta citotoxicidade para células do melanoma, meia-vida curta e baixa toxicidade para endotélio vascular, sendo uma boa escolha para o tratamento de melanoma de coróide. (Minor et al., 1985) Como efeitos colaterais sistêmicos, pode apresentar mielossupressão.
CONCLUSÃO: O caso acima tem como objetivo relatar uma complicação cutânea associada ao uso intra-arterial de Melphalan, antes descrita apenas em população pediátrica. Neste caso, o tratamento intra-arterial foi considerado como ponte para braquiteapia com placa de Ru-106, uma vez que existem limitações para seu uso no que tange às dimensão do tumor. Apesar das adversidades, o relato mostrou importante redução de diâmetro basal e espessura do tumor a partir do uso de Mephalan intra-arterial pré-braquiterapia, considerando o seu benefício maior que o risco.

Área

Oncologia

Autores

ARTHUR SAMPAIO ZUPELLI, LEONARDO LUIS CASSONI, RAFAEL MONTANHOLI MARTINS, GABRIELA MOUSSE CARVALHO, RODRIGO JORGE