Jornada Paulista de Oftalmologia (UNICAMP)

Dados do Trabalho


Título

SIFILIS OCULAR - RELATO DE CASO

Resumo

APRESENTAÇÃO DO CASO:
RPS, sexo masculino, caminhoneiro, 45 anos, iniciou hiperemia ocular no olho direito em março de 2023, seguido de sintomas semelhantes em olho esquerdo associado a turvação visual. Recebeu tratamento para uveíte durante três meses em clínica externa, sem diagnóstico preciso e sem melhora neste período. Em 17/05/2023 foi apontado acometimento ocular por sífilis através de exame clínico e resultado de VDRL (reagente 1/128), e o paciente foi referenciado ao HC-FMB.
Na admissão, apresentava queixa de turvação visual em ambos os olhos. Ao exame oftalmológico melhor acuidade visual de 0,3/0,9. Biomicroscopia com presença de células na câmara anterior (+1/+4) em ambos os olhos. Pressão intraocular de 22/16 mmHg. Fundoscopia com vitreíte 2+/4+ em ambos os olhos, retinite com espessamento macular em olho direito e espessamentos extramaculares em olho esquerdo, associado a aparente vasculite retiniana difusa.
Conduta na admissão: Coletado líquor e exames laboratoriais, todos sem alterações, com VDRL liquórico não reagente. Repetidas sorologias: Sífilis com teste treponêmico reagente e VDRL 1/256; HIV e Hepatites B/C não reagentes. Angiofluoresceinografia demonstrou múltiplas lesões hiperfluorescentes em ambos os olhos, e no olho esquerdo, sinais de vasculite significativa com extravasamento difuso de contraste perivascular.
Mediante constatação de sífilis ocular bilateral, com uveíte e retinite proeminentes, sem comprometimento neurológico ou sistêmico, foi iniciada terapia endovenosa com penicilina cristalina 5 milhões UI 4/4h, com acompanhamento oftalmológico diário durante internação hospitalar. Houve bom controle da pressão intraocular, melhora da uveíte anterior e da vitreíte já durante a primeira semana de tratamento, assim como da acuidade visual. Paciente completou tratamento proposto por 14 dias e mantém seguimento no serviço, com resultados satisfatórios.

DISCUSSÃO:
A sífilis, infecção causada pelo Treponema pallidum, é responsável por menos de 2% dos casos de uveítes, e corresponde a uma das poucas causas que podem ser completamente resolvidas com terapia antimicrobiana adequada¹.
As manifestações oftalmológicas da sífilis são diversas, incluindo dor, hiperemia, fotofobia e visão turva, com possível envolvimento de diversas estruturas oculares. A Academia Americana de Oftalmologia (AAO) menciona que a coriorretinite focal ou multifocal, caracterizando-se por lesões pequenas e amarelo-acinzentadas, geralmente associada a vitreíte, é a manifestação mais comum. À angiofluoresceinografia, lesões no epitélio pigmentar retiniano localizadas ou multifocais, maculares ou papilares, placóides, estão geralmente presentes, correspondendo aos achados encontrados no caso apresentado².
O atraso no diagnóstico e tratamento da uveíte sifilítica pode levar à cegueira¹. A retinite sifilítica responde bem à terapia com penicilina endovenosa, frequentemente resultando em bom prognóstico visual quando tratada precocemente².

COMENTÁRIOS FINAIS:
A identificação da infecção por sífilis pelo oftalmologista para um tratamento adequado é de extrema importância na prática clínica e na formação dos novos oftalmologistas.

REFERÊNCIAS:
1. AMERICAN ACADEMY OF OPHTHALMOLOGY. 2020-2021 BASIC AND CLINICAL SCIENCE COURSE (BCSC), SECTION 09: uveitis and ocular inflammation. S.L. AAO. 2020.
2. AMERICAN ACADEMY OF OPHTHALMOLOGY. 2020-2021 BASIC AND CLINICAL SCIENCE COURSE (BCSC), SECTION 12: Retina and vitreous. S.L. AAO, 2020.

Área

Retina

Autores

ALINE APIS, GUILHERME ALBERGARIA BRÍZIDA BÄCHTOLD, LUIZA BOAVA SOUZA, ROBERTA TOVO BORGHETTO ABUD, EDSON MITSURO KATO JUNIOR, GABRIELLA PACHÚ DE OLIVEIRA ZAMPIERI, NICOLE NOGUEIRA RODRIGUES, VINICIUS HATTORI RODRIGUES MIRA, MARIANA AYUSSO SOUBHIA, HIGOR ALEXANDRE PAVONI GOMES