Jornada Paulista de Oftalmologia (UNICAMP)

Dados do Trabalho


Título

CERATOCONJUNTIVITE VERNAL TRATADA COM POMADA DERMATOLOGICA DE TACROLIMUS

Resumo

Apresentação do caso
Masculino, 21 anos, em acompanhamento no ambulatório de Superfície Ocular do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu (HCFMB) por ceratoconjuntivte vernal (CV), compareceu à consulta queixando-se de piora importante do lacrimejamento, da fotofobia e da ardência ocular. Estava em uso irregular das seguintes medicações: colírios de Hialuronato de sódio 0,15% 1/1h, Olopatadina 1,11 mg/mL 12/12h, Cromoglicato dissódico 4% 6/6h, N-acetilcisteína 5% 8/8h e pomada Dexpantenol 50 mg/g 8/8h. Paciente com suporte social frágil, comparece às consultas sozinho e apresentava autocuidado prejudicado. Ao exame, apresentava acuidade visual sem correção de 20/200 em olho direito e conta-dedos a 30 cm em olho esquerdo, com piora em relação a exame prévio. Paciente apresentava fotofobia e lacrimejamento importantes, ptose palpebral, cílios com secreção serosa, e área de conjuntivalização corneana com presença de grande quantidade de nódulos esbranquiçados abrangendo essa região, também estendendo-se para conjuntiva bulbar, compatíveis com nódulos de Horner-Trantas. As lesões não coravam à fluoresceína, mas apresentava ceratite puntata, além de opacidade de aspecto cicatricial na periferia da córnea. Foi frisada a importância da adesão terapêutica, mantidos os medicamentos e medidas já prescritos, e introduzido Prednisolona colírio 1% de 3/3h e Tacrolimus 0,03% 12/12h, apresentação em pomada dermatológica, devido a dificuldade financeira do paciente em adquirir o medicamento na apresentação de uso oftalmológico. Após seguimento por 1 mês, com manutenção do uso de tacrolimus e regressão do uso do corticóide, paciente apresentava melhora importante dos sinais e sintomas.
Discussão
A CV é uma doença da superfície ocular bilateral, inflamatória, sazonal que acomete preferencialmente indivíduos do sexo masculino na primeira década de vida, tendendo a resolução durante a puberdade. É uma doença mediada por IgE, com predominância do envolvimento de células T CD4 e eosinófilos. Apresenta-se em sua forma palpebral com hiperemia conjuntival, quemose, fotofobia, secreção mucosa, papilas gigantes em conjuntiva tarsal superior, e em sua forma limbar com formação de nódulo de Horner-Trantas e limbo gelatinoso. O tratamento medicamentoso para a condição é tradicionalmente realizado com anti-histamínicos, cromoglicato de sódio e seus derivados, que podem ser insuficientes para o controle clínico. O uso de corticóide tópico é mandatório e eficaz no tratamento, no entanto, sabe-se que seu uso prolongado pode causar complicações como catarata e glaucoma. Diante disso, o uso de tacrolimus apresenta-se como um tratamento alternativo para CV, com obtenção de bons resultados. No caso relatado, o paciente apresentou melhora importante dos sintomas com uso de pomada de tacrolimus dermatológica, por não ter possibilidade financeira de adquirir a apresentação de uso oftalmológico.
Comentários Finais
Esse caso ilustra o potencial de gravidade e intensidade das manifestações da ceratoconjuntivite vernal, e a importância da adesão terapêutica. Ilustra também a dificuldade em se conduzir alguns casos mais graves no sistema público de saúde, uma vez que o sucesso terapêutico pode depender da condição do paciente e da família de adquirir colírios e pomadas de elevado custo, devendo-se buscar alternativas terapêuticas acessíveis. Diante do contexto da CV, não se pode esquecer da importância do uso de tacrolimus para o controle da doença.

Área

Superfície Ocular

Autores

MARIANA COZIMO NUNES, JULIA COSTA GARCIA, VICTOR RIBEIRO DE SANT'ANA, EDSON MITSURO KATO JUNIOR, LUIZ VIEIRA E SÁ II, ALVIO ISAO SHIGUEMATSU